A geração dos corpos organizados em Maupertuis
A geração dos corpos organizados em Maupertuis,
de Maurício de Carvalho Ramos,
Editora 34/Associação Filosófica Scientiæ Studia, 2009.
362pp.
Formato: 145x225mm
ISBN:
Preço: R$
Neste livro o leitor encontrará uma exposição detalhada de como um importante autor da época das Luzes enfrentou um dos grandes desafios das ciências naturais: explicar como os organismos são gerados. Tal exposição começa reconstruindo a filosofia natural presente nos estudos de astronomia e física de Maupertuis. Postulando como meta da ciência a explicação dos fenômenos, esta filosofia natural compromete-se com uma epistemologia empirista, mas permite o recurso às causas finais em física. Combinando o exame das propriedades observáveis dos corpos e as tendências existentes na natureza, Maupertuis formula seu princípio de mínima ação, que afirma que em qualquer mudança ocorrida no universo a ação despendida é sempre a menor possível. Na seqüência da exposição, o texto passa a abordar a segunda linha de pesquisas de Maupertuis, a geração orgânica, que trata de questões em torno da reprodução, da embriologia, da hereditariedade e da origem e transformação das espécies. Apesar do amplo espectro de fenômenos que a física podia cobrir com a aplicação do princípio de mínima ação, Maupertuis considerou-a insuficiente para explicar este último conjunto de fenômenos complexos. Para tanto, seria necessário atribuir à matéria propriedades psíquicas como o desejo, a aversão e a memória como elementos organizadores que operariam conjuntamente com as propriedades físicas como a extensão e a atração. Formulando uma teoria cuja importância para a história da biologia ainda é relativamente pouco reconhecida, Maupertuis colocou-se como crítico das teorias mais aceitas de sua época, a saber, a pré-formação, a preexistência e o embutimento dos germes. Acompanhando o processo de construção da teoria da geração de Maupertuis o leitor poderá verificar que, mesmo metodologicamente proibida pela filosofia mecânica reinante, a atribuição de propriedades psíquicas à matéria gerou uma teoria empiricamente mais adequada do que suas rivais. Ela resolveu as dificuldades da preexistência relativas à mestiçagem e a hibridização, à produção de malformações e à origem e transformação de raças e espécies. Para este último tópico, Maupertuis lançou conjecturas ousadas sobre a origem monofilética das espécies e apresentou um quadro geral da origem primordial dos corpos organizados que articula elementos físicos e metafísicos.
Maurício de Carvalho Ramos é biólogo e mestre em biologia, tendo realizado doutorado e pós-doutorado no Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas e Letras, USP, na área de filosofia da ciência com estudos voltados para a história e a filosofia da biologia. Realizou estágio de curta duração na Universidade de Paris 7 junto à Equipe RESHEIS (Recherches Epistémologiques et Historiques sur les Sciences Exactes et les Institutions Scientifiques). Lecionou biologia, metodologia científica e filosofia em várias instituições de ensino privadas, dentre elas na graduação em filosofia e no mestrado em epistemologia da Universidade São Judas Tadeu. Atualmente é professor e pesquisador junto ao Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, onde ministra cursos e desenvolve estudos sobre os seguintes temas: geração orgânica, ciências da vida e valores, natureza e artefato, individualidade biológica, evolucionismo e vitalismo. Também é membro da comissão editorial e colaborador da revista Scientiae Studia – Revista latino-americana de filosofia e história da ciência e participa do Projeto Temático da Fapesp “Gênese e significado da tecnociência”.